sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Poema de Geraldo Carneiro

Balada do Impostor

sou um impostor, um dia saberão
que simulei tudo o que sempre fui.
sou uma ficção, meu sangue é só linguagem
meu sopro é uma explosão que vem de dentro
em forma de palavra.
quando já não for mais, serei eu mesmo.
enquanto tardo, trapaceio contra o tempo
a máquina que vai me devorando
invento meus adventos e meus ventos
e vou passando como tudo passa
em busca de uma graça que ultrapasse
o círculo da minha circunstância
o espelho que não seja senão o outro
esse que me habita e que me espreita
e, não sendo eu, me acata os meus espantos.


*Do livro Balada do Impostor (Editora Garamond, 2006)

Nenhum comentário:

Postar um comentário