terça-feira, 19 de abril de 2011

O ocaso do comandante


Figura emblemática e controvertida, Fidel Castro, 84, está renunciando o comando do Partido Comunista Cubano - PCC, depois de mais de 52 anos como fiel mandatário da Revolução Cubana na ilha caribenha. El comandante sai de cena num momento em que o país passa pelas mais profundas transformações econômicas, sociais e políticas de sua existência.

Fidel renuncia quando o 6º Congresso do PCC delibera por mudanças radicais na gestão do regime comunista. A redefinição dos conceitos socialistas propõe alterações significativas no modo de vida da população, como o corte "ordenado" do livrinho (libretos), as antigas cadernetas com anotações do fornecimento da feira que o governo dá ao povo. Muito parecidas com aquelas usadas pelos bodegueiros daqui. E o povo grita êpa com medo da passar fome. Os salários na ilha são baixíssimos. O documento prega a redução da intervenção do estado na economia e na previdência social entre otras cositas más. Tudo como o ensina a cartilha do capital. Tudo que regime combateu em décadas.

Cuba adere à globalização sob pena de ser engolida pelo dragão da democracia e do liberalismo econômico que rege o planeta no turbilhão do século 21. Ou dá ou desce. Libera a economia de mercado, mesmo numa economia mista. Vai acabar fornecendo mão de obra barata ao capitalismo investidor para sobreviver. Cuba viu a China no espelho, e o PCC quer se segurar na sela mais um tempinho. Defende mandato de cinco anos e uma reeleição. Enquanto os cubanos sem mais ilusões esperam que a caetana venha buscar o regime.

E neste cenário vai o velho Fidel já cansado das lutas e glórias e as inglórias, para a galeria da história. Um período de saudosa e conturbada memória da revolução. Dos embargos da ONU e enfretamentos dos EUA que ainda vigoram. Um período onde o estado forjou a educação e saúde pública, e perdeu o bonde tecnológico.

Onde a tradição sobreviveu espontaneamente com a música e a dança popular. A religião católica e o xangô das santerias convivendo pacificamente (como no Brasil), e o sistema contrário tendo que fechar os olhos para a devoção religiosa do povo. Tempos de ditadura e morte e perseguição aos livres pensadores e opositores do regime castrista.

Agora o comandante Fidel veste o pijama e vai descansar a vida que lhe resta em cima da ilha. Está definitivamente na caserna. O ocaso na baía dos porcos é lindo.

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