terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Invernal

Não vejo mais a luz do farol naquela bóia na boca do rio. As nuvens escuras baixaram com a neblina e deixaram tudo mais cinza. Assim você ficou tão longe, distante dos meus braços, apesar de estar apenas há algumas braças de mim. Acendo um cigarro e tento alumiar o dia com a brasa quente que me aquece o corpo na sua falta. Mais um trago. O peito inflama com a fumaça que adentra os pulmões, sou pleno então, inflado de ar flutuo nas águas deste rio longo que vem do sertão.

Vou levado na correnteza e remo com todas as forças. Impulsiono a canoa. Mas me falta o leme, a guia que fita a claraboia por onde passa alguns raios do sol escondido. E novamente me embrenho nas gamboas entre cipós do manguezal. Ali onde as aves marinhas piam soturnamente, os caranguejos circulam e os peixes se nutrem. São meus vizinhos mais próximos nessa viagem fluvial. Novamente vislumbro uma saída, o horizonte escondido onde a sereia repousa montada nas costas do mar ao longe.

O farol permanece aceso. É apenas uma réstia daquilo que busco. Lá fora irradia o cinzel que sutil esculpe o final da tarde, e já mareado sigo a tangida das ondas em meio ao nevoeiro. Preciso manter o foco naquela luz que pousa onde o rio se abraça com o mar. Monto no peixe-voador como a última esperança de encontrar tua boca emoldurada por lábios carnudos. Cabelos cacheados. Coxas macias. E todos os contornos do teu corpo agarrado àquela bóia que flutua no balanço das ondas. O tesouro guardado na estação invernal.

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