(de Asabis)
Oswaldo Sauma
Amor
pra que te serve um poeta
ele só tem palavras
solidão e palavras
uma frase amável
e muitas ilusões de papel
pra que serve um homem
que desconhece os limites
que edifica uma muralha de sombra
onde guarnecer os resplendores de seu sonho
o poeta sabe pouco de alegrias
é mais um traficante do infortúnio
uma ave agourenta em territórios desolados
ele negocia com os cegos estrelas distantes
vende aos sonâmbulos sonhos de ímpeto noturno
ele leva flores às árvores
alumbra o coração dos peixes
carburante aos vaga-lumes
ele destila nuvens sob o sol absorto
de verdade, amor, desiste
nem Platão o quis em sua República
é o primeiro que acossam por ser zorro
o primeiro que aprisionam por ser pássaro
o primeiro que matam por ser lúcido
e o que é pior
cobram sempre dele
sobretaxas nos recibos de luz
ignore-o
ele não poderia dar-te nenhuma segurança
gaba-se de sua pobreza
do verde sol de seu cio
e como um menino em tudo crê, ver o assombro
eu te advirto, amor
não te comprometas
ele só pode oferecer-te
o território cinza das vias livres.
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