Um galo
sozinho não tece uma manhã:
ele precisará
sempre de outros galos.
De um que
apanhe esse grito que ele
e o lance a
outro; de um outro galo
que apanhe
o grito de um galo antes
e o lance a
outro; e de outros galos
que com
muitos outros galos se cruzem
os fios de
sol de seus gritos de galo,
para que a
manhã, desde uma teia tênue,
se vá
tecendo, entre todos os galos.
E se
encorpando em tela, entre todos,
se erguendo
tenda, onde entrem todos,
se
entretendendo para todos, no toldo
(a manhã)
que plana livre de armação.
A manhã,
toldo de um tecido tão aéreo
que,
tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
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