Há 18 dias hospedado num quarto de
hospital
Vendo as madrugadas frias passarem
por mim como quem não quer nada
Ouvindo a mãe alucinada de amor que teme pelo
seu filhinho acometido de coqueluxe no quarto ao lado
Seu grito desesperado rompe os
corredores pedindo socorro pela vida que se desvanece em mais uma crise
E a dor que rasga meu pé
Acometido por uma infecção bacteriana - adquirida no mato por uma ferpa de pau
Vai sendo debelada pelo bisturi
da cirurgiã
E as mil doses de antibióticos
O tráfego diuturno das enfermeiras
Com suas seringas, soros e
medicamentos prestativos pelos corredores
A moça que faz a limpeza com um
sorriso gentil.
A outra de cara fechada se
nega a levar o papagaio ao banheiro, pois não é a sua obrigação fazer um favor
A comida regrada de todos os dias me
ajuda a sobreviver
Mesmo trancafiado fico sabendo da
covardia
do canalha do quarto distante que assedia
as enfermeiras
E elas por não cederem seus apelos
são maltratadas moral e fisicamente.
Uma delas com o braço inchado chorou
na minha frente
E a cara de pau da esposa babaca que
comunicada do fato diz não acreditar na versão da Enfermaria
Outra mulher com depressão pós-parto
se dissolve no quarto da frente
Enquanto o bebê chora querendo seu
peito, seu leite e o seu calor
Assim os dias passam
Meu colega da cama do lado sempre de
bom humor já foi embora
Fico sozinho assistindo as tardes
longas
As manhãs sombrias
Que se debruçam no interior do quarto
Sempre com as cortinas fechadas
Mas pode ser sol ou chover lá fora
Aqui é o reino da energia elétrica
Cronometro as horas pelos programas
da TV
No meu leito espero cada novo dia
A restauração do corpo mutilado
Que aos poucos se revigora
Pela fresta da porta
Vejo a luz da liberdade me esperando
tranquila nalgum jardim
Porra! Poema da porra!
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