Pássaros Matinais
Tomas Tranströmer
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta que foi caluniado
na Direção.
Pela parte de trás da paisagem
chega a gralha negra e branca. Pássaro agourento.
O melro se move em todas as direções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca estendida no varal:
um canto da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto eu vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
(1966)
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