sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pássaros Matinais

Tomas Tranströmer


Desperto o automóvel

que tem o pára-brisas coberto de pólen.

Coloco os óculos de sol.

O canto dos pássaros escurece.

 

Enquanto isso outro homem compra um diário

na estação de comboio

junto a um grande vagão de carga

completamente vermelho de ferrugem

que cintila ao sol.

 

Não há vazios por aqui.

 

Cruza o calor da primavera um corredor frio

por onde alguém entra depressa

e conta que foi caluniado

na Direção.

 

Pela parte de trás da paisagem

chega a gralha negra e branca. Pássaro agourento.

O melro se move em todas as direções

até que tudo seja um desenho a carvão,

salvo a roupa branca estendida no varal:

um canto da Palestina:

 

Não há vazios por aqui.

 

É fantástico sentir como cresce o meu poema

enquanto eu vou encolhendo

Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.

Expulsa-me do ninho.

O poema está pronto.

 

(1966)

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